Os animais domésticos e o fogo de artifício: relação nem sempre fácil.
junho 2018

Os animais domésticos e o fogo de artifício: relação nem sempre fácil.

Agora que estamos a entrar na época das festas populares, gostaríamos de chamar a atenção para esta questão, que é problemática para muitas famílias.

O medo é uma emoção que induz uma resposta de adaptação. Tal permite ao animal evitar situações e actividades que possam colocá-lo em perigo. Para que o medo seja adaptativo, deve apenas surgir em situações que ameaçam efectivamente a segurança do animal. Contudo, em alguns animais (humanos e não humanos...), a resposta de medo é desproporcional em relação ao estímulo: estamos perante uma fobia.

Nos cães, a fobia provavelmente mais frequente, é a fobia a ruídos intensos e imprevisíveis, como os provocados por foguetes, trovões e similares.

A imprevisibilidade destes estímulos é enorme: o animal nunca sabe quando surgem, quanto tempo duram e que intensidade terão. Por outro lado, os estímulos são compostos: no caso das trovoadas, por exemplo, para além do ruído, há alterações na luminosidade, na humidade, na pressão atmosférica, entre outros. Tal pode fazer com que o animal ao sentir, por exemplo, alterações na pressão atmosférica (mesmo na ausência da trovoada), preveja todo o quadro, apresentando os comportamentos de medo, sem que para o dono haja motivos aparentes para tal.

As reacções de medo do animal variam de intensidade, desde uma ligeira intranquilidade até uma autêntica reacção de pânico, com apresentação de comportamentos como babar-se intensamente, arfar, esconder-se, tremer, encolher-se, vocalizar intensamente, urinar e/ou defecar e comportamentos de destruição ou de fuga. Das fugas podem resultar lesões físicas sérias para o animal, que podem culminar na morte (magoar-se no processo de fuga, provocar acidentes de trânsito, entre outros). Estes são os sinais mais comuns nos cães.

Os gatos tendem a esconder-se, tentar fugir ou ficam como que paralisados (inibição comportamental). Esta passividade é muitas vezes interpretada pelos donos como descontração, principalmente quando associada a um aumento dos cuidados de auto-manutenção, como o animal lamber-se muito (ah, está só a tomar banho...).

Esta condição pode surgir nos primeiros anos de vida e como não há uma adaptação ao estímulo, tende a agravar com o tempo. Ou seja, mesmo que o estímulo que desencadeia a fobia se torne repetitivo e sem consequências negativas para o animal, a resposta de medo não só se mantém, como pode piorar. Animais que são confortados pelos donos durante os episódios de medo tendem a aumentar a duração e intensidade das reacções nos episódios subsequentes.

Donos de animais com este problema devem procurar aconselhamento junto do médico-veterinário, pois a condição pode ser resolvida através de maneio, treino e, em situações muito específicas, através da administração de medicamentos. Pode ser um processo longo e complexo, que vai requerer muita dedicação do dono, mas que certamente irá reforçar ainda mais a ligação entre este e o seu fiel companheiro.

Às famílias que não vivem esta situação, desejamos boas festas populares.

Às que a vivem, desejamos uma óptima resolução da condição e que as festas vindouras sejam bem mais fáceis do que as anteriores!

 

Baseado em

Dale, A.R et al. –A survey of owners’ perceptions of fear of fireworks in a sample of dogs and cats in New Zeland. (2010) NZ Vet J. p. 286-91.

 Fernadez-Baillo, C.G.M.- Problema do medo a ruídos fortes em cães. Monografia “Actualização em etologia” 3. Ceva Saúde Animal

Imagem: http://snughughome.com/

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