Os animais domésticos e o fogo de artifício: relação nem sempre fácil.
Agora que estamos a entrar na época das festas populares,
gostaríamos de chamar a atenção para esta questão, que é problemática para
muitas famílias.
O medo é uma emoção que induz uma
resposta de adaptação. Tal permite ao animal evitar situações e actividades que
possam colocá-lo em perigo. Para que o medo seja adaptativo, deve apenas surgir
em situações que ameaçam efectivamente a segurança do animal. Contudo, em
alguns animais (humanos e não humanos...), a resposta de medo é desproporcional
em relação ao estímulo: estamos perante uma fobia.
Nos cães, a fobia provavelmente mais
frequente, é a fobia a ruídos intensos e imprevisíveis, como os provocados por
foguetes, trovões e similares.
A imprevisibilidade destes
estímulos é enorme: o animal nunca sabe quando surgem, quanto tempo duram e que
intensidade terão. Por outro lado, os estímulos são compostos: no caso das
trovoadas, por exemplo, para além do ruído, há alterações na luminosidade, na
humidade, na pressão atmosférica, entre outros. Tal pode fazer com que o animal
ao sentir, por exemplo, alterações na pressão atmosférica (mesmo na ausência da
trovoada), preveja todo o quadro, apresentando os comportamentos de medo, sem
que para o dono haja motivos aparentes para tal.
As reacções de medo do animal variam
de intensidade, desde uma ligeira intranquilidade até uma autêntica reacção de
pânico, com apresentação de comportamentos como babar-se intensamente, arfar,
esconder-se, tremer, encolher-se, vocalizar intensamente, urinar e/ou defecar e
comportamentos de destruição ou de fuga. Das fugas podem resultar lesões físicas sérias para o animal, que podem
culminar na morte (magoar-se no processo de fuga, provocar acidentes de trânsito,
entre outros). Estes são os sinais mais comuns nos cães.
Os gatos tendem a esconder-se, tentar
fugir ou ficam como que paralisados (inibição comportamental). Esta passividade
é muitas vezes interpretada pelos donos como descontração, principalmente
quando associada a um aumento dos cuidados de auto-manutenção, como o animal
lamber-se muito (ah, está só a tomar banho...).
Esta condição pode surgir nos
primeiros anos de vida e como não há uma adaptação ao estímulo, tende a agravar
com o tempo. Ou seja, mesmo que o estímulo que desencadeia a fobia se torne
repetitivo e sem consequências negativas para o animal, a resposta de medo não
só se mantém, como pode piorar. Animais que são confortados pelos donos durante
os episódios de medo tendem a aumentar a duração e intensidade das reacções nos
episódios subsequentes.
Donos de animais com este
problema devem procurar aconselhamento junto do médico-veterinário, pois a
condição pode ser resolvida através de maneio, treino e, em situações muito
específicas, através da administração de medicamentos. Pode ser um processo
longo e complexo, que vai requerer muita dedicação do dono, mas que certamente
irá reforçar ainda mais a ligação entre este e o seu fiel companheiro.
Às famílias que não vivem esta
situação, desejamos boas festas populares.
Às que a vivem, desejamos uma
óptima resolução da condição e que as festas vindouras sejam bem mais fáceis do
que as anteriores!
Baseado em
Dale, A.R et al. –A survey of owners’ perceptions of fear of
fireworks in a sample of dogs and cats in New Zeland. (2010) NZ Vet J. p.
286-91.
Fernadez-Baillo,
C.G.M.- Problema do medo a ruídos fortes
em cães. Monografia “Actualização em etologia” 3. Ceva Saúde Animal
Imagem: http://snughughome.com/